O partido do Taxi

Artifícios

O CDS/PP é tão só e apenas Paulo Portas e uns restos de uma memória histórica que nem os seus mais relevantes protagonistas fazem alimentar.

Rita Marques Guedes DE

Equívoco. A desfiliação de um conjunto de militantes do CDS/PP, até pode, numa primeira leitura, justificar-se pelas atitudes centralistas ou “amiguistas” que alegadamente apontam à actual direcção e directamente ao presidente do partido. Mas olhando as coisas numa perspectiva mais substantiva, convenhamos que é hoje difícil a um militante do CDS / PP encontrar razões para continuar a militar num partido em acelerado processo de inexistência programática. Quando a instituição carece de uma verdadeira implantação local e comete o suicídio de se fundir em termos identitários com o seu dirigente máximo, o mais natural é que o mal de um acarrete o mal de outro. O CDS/PP é tão só e apenas Paulo Portas e uns restos de uma memória histórica que nem os seus mais relevantes protagonistas fazem alimentar. Contudo, o CDS/PP de hoje já não é o resultado de uma fórmula dependente de um Paulo Portas que conseguia preencher um espaço no espectro político e que despertava atenções, fosse pelos temas escolhidos ou pelo ‘glamour’ discursivo, fosse pelo lastro que trazia de “o Independente”, fosse pela mestria como utilizava os meios de comunicação, fosse pelo brilho como tudo isto surgia embrulhado, numa artificialidade tão intensa quanto de eficácia limitada no tempo. O actual CDS/ PP é o resultado da mera repetição de uma fórmula tão gasta quanto usada. Uma repetição cansativa e previsível, que tirou força ao argumento, que estafou o protagonista e que desinteressou a audiência. Bem vistas as coisas, enquanto que à esquerda do PS há estratégia, há projectos e há alma – concorde-se ou não – o facto é que à direita do PSD nada disso existe. Não deixando de o significado deste facto revelar para a própria estrutura do sistema político e até para um futuro quadro de governabilidade, importa questionar: o que ganhou o CDS/PP com a substituição de Ribeiro e Castro por Paulo Portas?