Do amor
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Do amor
Do amor
Eis o amor segundo Molloy, protagonista do romance homónimo de Beckett (na tradução de Dóris Graça Dias, que a Relógio d'Água publicou em 2003): «Ela tinha o modesto nome de Ruth, creio, mas não posso garantir. Talvez se chamasse Édith. Tinha um buraco entre as pernas, oh, não a abertura que sempre imaginara, mas uma fenda, e eu metia, ela metia, de preferência, o meu membro supostamente viril lá dentro, não sem trabalho, e eu empurrava e arquejava até ao momento em que eu emitisse ou que a ela renunciasse ou que ela me suplicasse que desistisse. Um jogo estúpido, na minha opinião, e como tal cansativo, com o tempo. Mas prestava‑me a ele com muito gosto, sabendo que isto era o amor, porque ela me tinha dito. Ela debruçava‑se por cima do cosy, por causa do seu reumático, e eu penetrava‑a por trás. Era a única posição que podia suportar, por causa do lumbago. Eu achava isto natural, porque vira os cães, e fiquei espantado quando me confidenciou que se podia arranjar de outra maneira. Pergunto‑me o que quereria ela dizer exactamente. Talvez que, depois de tudo, ela me metesse no recto. Isso era‑me soberanamente igual, estão a ver. Mas é esse o verdadeiro amor, no recto? Eis o que me incomoda. Teria eu alguma vez conhecido o amor, afinal de contas?» (p. 67)
posted by João Paulo Sousa
Da Literatura
Eis o amor segundo Molloy, protagonista do romance homónimo de Beckett (na tradução de Dóris Graça Dias, que a Relógio d'Água publicou em 2003): «Ela tinha o modesto nome de Ruth, creio, mas não posso garantir. Talvez se chamasse Édith. Tinha um buraco entre as pernas, oh, não a abertura que sempre imaginara, mas uma fenda, e eu metia, ela metia, de preferência, o meu membro supostamente viril lá dentro, não sem trabalho, e eu empurrava e arquejava até ao momento em que eu emitisse ou que a ela renunciasse ou que ela me suplicasse que desistisse. Um jogo estúpido, na minha opinião, e como tal cansativo, com o tempo. Mas prestava‑me a ele com muito gosto, sabendo que isto era o amor, porque ela me tinha dito. Ela debruçava‑se por cima do cosy, por causa do seu reumático, e eu penetrava‑a por trás. Era a única posição que podia suportar, por causa do lumbago. Eu achava isto natural, porque vira os cães, e fiquei espantado quando me confidenciou que se podia arranjar de outra maneira. Pergunto‑me o que quereria ela dizer exactamente. Talvez que, depois de tudo, ela me metesse no recto. Isso era‑me soberanamente igual, estão a ver. Mas é esse o verdadeiro amor, no recto? Eis o que me incomoda. Teria eu alguma vez conhecido o amor, afinal de contas?» (p. 67)
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