LíbanoWalid Jumblat acusa França de querer isolar a Turquia07/06 15:12 CET
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LíbanoWalid Jumblat acusa França de querer isolar a Turquia07/06 15:12 CET
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Líbano[b]Walid Jumblat acusa França de querer isolar a Turquia07/06 15:12 CET[/b]
O
encontro de Doha tornou possível a eleição do presidente, reclamada
pela maioria parlamentar e o acordo para a formação de um governo de
unidade nacional, reclamado pela oposição. Mas o executivo libanês
demora a ser constituído e a assumir funções. O Líbano tarda em
assumir-se como um país de corpo inteiro. A Euronews entrevistou, em
Beirute, um dos principais protagonistas da luta pela independência do
país, o líder da comunidade druza, Walid Jumblat, que não poupa
críticas ao bloco europeu.
Euronews:
Senhor Jumblat, bem vindo à Euronews.
Walid Jumblat:
Bom dia
E: A vida política no Líbano voltou ao normal?
W.J: De uma certa forma, sim, a vida política voltou ao normal. A
oposição levantou o cerco no centro de Beirute. Temos um presidente da
república. A vida retoma o seu curso, mas temos que fazer face à
situação, porque no Líbano temos um estado libanês e um estado de
resistência, quero dizer um estado do Hezbollah.
E: Isso quer dizer que o Hezbollah é um estado dentro do estado?
W.J: Exactamente, já o disse no passado e volto a dizê-lo hoje. Os
poderes regionais que são a Síria e o Irão, têm-se comportado de forma
que o Hezbollah se transformou num fenómeno político militar autónomo
com o qual temos que co-habitar. Isto é uma situação estranha mas temos
que viver com ela.
E: Mas o Irão mantém ainda uma influência na política libanesa?
W.J: Espero que os dirigentes iranianos reconheçam o estado libanês, em
vez de ajudarem financeira e militarmente o hezbollah. Ouso acreditar
que chegou a altura de o apoio do Irão em armas e dinheiro passar para
o estado libanês.
E: Há ainda obstáculos que impedem a formação do novo governo?
W.J: Há sempre obstáculos quando se trata de formar um governo, porque
temos no Líbano um sistema de quotas atribuídas a cada comunidade. De
qualquer forma, é uma missão que o primeiro-ministro Fouad Siniora está
a cumprir de uma forma lenta, mas segura.
E: Quais são os cenários possíveis no caso do novo governo não ser constituído a breve prazo?
W.J: É normal que haja dificuldades… Mas creio que as consultas entre o
primeiro-ministro Siniora e o presidente Michel Suleimane vão acabar
por trazer uma solução satisfatória para toda a gente.
E: O senhor disse, no passado, que o Líbano precisa do braço armado do hezbollah para se defender. Mantém essa opinião?
W.J: Eu não disse isso. Disse que é importante estabelecer uma
estratégia defensiva de modo a que o armamento do hezbollah seja
integrado no estado libanês. Nenhum partido pode deter armas mais
sofisticadas que as que possui o estado, nem ter as mãos livres para
decidir sobre a guerra ou sobre a paz, quando lhe apetece. Mas isto
está relacionado com a situação regional. Sabe que o hezbollah é um
fenómeno político, militar e de segurança de dimensão regional,
incarnado pelo Irão e pela Síria.
E: Durante o encontro entre o presidente sírio Bachar al Assad e o emir
do Qatar, houve apelos à solidariedade árabe, de forma a reforçar o
consenso libanês. Podemos concluir que o consenso ainda está longe?
W.J:
Qual consenso?
E:
O consenso inter-libanês e a solidariedade árabe.
W.J:
O que é certo é que eu não vejo o presidente sírio a vir ao Líbano e
esta visita é indispensável, é preciso que o presidente Assad encontre
o presidente Michel Suleimane na fronteira sírio-libanesa, como foi o
caso do presidente Gamal Abdel-Nasser e o Président Fouad Chihab. É
claro que não se pode comparar Nasser com Assad. Este primeiro encontro
na fronteira é o primeiro passo para o reconhecimento da entidade
libanesa.
Mas, eu, pessoalmente, não estou de acordo que o presidente Bachar venha ao Líbano num contexto de divisão política intensa.
E: Portanto, o que está a querer dizer ao presidente sírio é: senhor
Bachar al-Assad fique onde está, não tem nada que fazer aqui no Líbano?
W.J:
É a minha opinião pessoal. Nós tivémos divergências profundas com o
regime sírio, depois de Damasco ter apoiado o prolongamento do mandato
do presidente Lahoud. O preço desse prolongamento foi o sangue do
primeiro-ministro Rafik Hariri e de todos os outros mártires do
movimento da independência do Líbano. Por isso, volto a dizer, a minha
opinião não mudou.
E: Desde há algum tempo, algumas teses defendem que a Síria não
estaria implicada no assassinato de Rafik Hariri e que poderes
regionais ou serviços secretos da região estariam por detrás do
atentado…
W.J:
Porque é que todos aqueles que se opuseram à presença síria, ao
prolongamento do mandato do presidente Lahoud e pediram a independência
do Líbano com relações de igual para igual com Damasco foram mortos?
Quem é que até hoje, para além do regime sírio, não reconheceu ainda a
independência do Líbano?
E: Existem ainda receios no seio da classe política de que haja outros assassinatos políticos?
WJ:
Não sei. Tudo é possível.
E: O que se passa com o tribunal internacional encarregado do caso do assassinato do primeiro-ministro Rafik Hariri?
WJ :
Espero que esse tribunal seja constituído o mais rapidamente possível,
mas parece-me que as coisas estão um pouco atrasadas. Não sei se o
atraso é técnico ou político.
E: E se fôr político?
WJ : Se o atraso é político, quer dizer que as Nações Unidas, ou uma
facção no seio das Nações Unidas, está em conivência com o regime em
deterimento do sangue de Rafik Hariri e dos outros mártires da
independência do Líbano.
E: Falemos da visita prevista do presidente francês. O que espera de Nicolas Sarkozy?
WJ:
Esperamos que a política da França seja menos ambígua no que diz
respeito à questão palestiniana, do que foi no tempo do presidente
Chirac. Pensamos saber que no quadro do lançamento da União para o
Mediterrâneo, o presidente sírio foi convidado para assistir ao desfile
do 14 de Julho ao lado do presidente Sarkozy. Se assim fôr, penso que
este convite é um insulto ao povo francês.
E: O que pensa do papel da União Europeia no Líbano. Pensa que deve ser ausente ou, ao contrário, deve estar mais presente?
WJ:
Não há política europeia comum. Há alguns gigantes económicos a que
chamamos Europa, mas não há uma única voz em matéria de política
externa e isto não apenas em relação ao Líbano, mas a todo o espaço do
Mediterrâneo.
E: Pensa que a União para o Mediterrâneo pode trazer um novo espírito, capz de isolar as ditaduras do mundo árabe?
WJ:
Não. Não acredito. Penso que a União para o Mediterrêneo é,
infelizmente, uma forma de a França isolar a Turquia. E já que falamos
de espaço mediterrânico, a Turquia faz parte deste espaço e também
Israel que prossegue uma política de discriminação racial e repressão
sobre os palestinianos. Não consigo entender como é que a Europa pode
não ser solidária com a questão palestiniana, mantendo uma posição tão
pouco clara.
E:Walid Jumblat, muito obrigado
Líbano[b]Walid Jumblat acusa França de querer isolar a Turquia07/06 15:12 CET[/b]
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O
encontro de Doha tornou possível a eleição do presidente, reclamada
pela maioria parlamentar e o acordo para a formação de um governo de
unidade nacional, reclamado pela oposição. Mas o executivo libanês
demora a ser constituído e a assumir funções. O Líbano tarda em
assumir-se como um país de corpo inteiro. A Euronews entrevistou, em
Beirute, um dos principais protagonistas da luta pela independência do
país, o líder da comunidade druza, Walid Jumblat, que não poupa
críticas ao bloco europeu.
Euronews:
Senhor Jumblat, bem vindo à Euronews.
Walid Jumblat:
Bom dia
E: A vida política no Líbano voltou ao normal?
W.J: De uma certa forma, sim, a vida política voltou ao normal. A
oposição levantou o cerco no centro de Beirute. Temos um presidente da
república. A vida retoma o seu curso, mas temos que fazer face à
situação, porque no Líbano temos um estado libanês e um estado de
resistência, quero dizer um estado do Hezbollah.
E: Isso quer dizer que o Hezbollah é um estado dentro do estado?
W.J: Exactamente, já o disse no passado e volto a dizê-lo hoje. Os
poderes regionais que são a Síria e o Irão, têm-se comportado de forma
que o Hezbollah se transformou num fenómeno político militar autónomo
com o qual temos que co-habitar. Isto é uma situação estranha mas temos
que viver com ela.
E: Mas o Irão mantém ainda uma influência na política libanesa?
W.J: Espero que os dirigentes iranianos reconheçam o estado libanês, em
vez de ajudarem financeira e militarmente o hezbollah. Ouso acreditar
que chegou a altura de o apoio do Irão em armas e dinheiro passar para
o estado libanês.
E: Há ainda obstáculos que impedem a formação do novo governo?
W.J: Há sempre obstáculos quando se trata de formar um governo, porque
temos no Líbano um sistema de quotas atribuídas a cada comunidade. De
qualquer forma, é uma missão que o primeiro-ministro Fouad Siniora está
a cumprir de uma forma lenta, mas segura.
E: Quais são os cenários possíveis no caso do novo governo não ser constituído a breve prazo?
W.J: É normal que haja dificuldades… Mas creio que as consultas entre o
primeiro-ministro Siniora e o presidente Michel Suleimane vão acabar
por trazer uma solução satisfatória para toda a gente.
E: O senhor disse, no passado, que o Líbano precisa do braço armado do hezbollah para se defender. Mantém essa opinião?
W.J: Eu não disse isso. Disse que é importante estabelecer uma
estratégia defensiva de modo a que o armamento do hezbollah seja
integrado no estado libanês. Nenhum partido pode deter armas mais
sofisticadas que as que possui o estado, nem ter as mãos livres para
decidir sobre a guerra ou sobre a paz, quando lhe apetece. Mas isto
está relacionado com a situação regional. Sabe que o hezbollah é um
fenómeno político, militar e de segurança de dimensão regional,
incarnado pelo Irão e pela Síria.
E: Durante o encontro entre o presidente sírio Bachar al Assad e o emir
do Qatar, houve apelos à solidariedade árabe, de forma a reforçar o
consenso libanês. Podemos concluir que o consenso ainda está longe?
W.J:
Qual consenso?
E:
O consenso inter-libanês e a solidariedade árabe.
W.J:
O que é certo é que eu não vejo o presidente sírio a vir ao Líbano e
esta visita é indispensável, é preciso que o presidente Assad encontre
o presidente Michel Suleimane na fronteira sírio-libanesa, como foi o
caso do presidente Gamal Abdel-Nasser e o Président Fouad Chihab. É
claro que não se pode comparar Nasser com Assad. Este primeiro encontro
na fronteira é o primeiro passo para o reconhecimento da entidade
libanesa.
Mas, eu, pessoalmente, não estou de acordo que o presidente Bachar venha ao Líbano num contexto de divisão política intensa.
E: Portanto, o que está a querer dizer ao presidente sírio é: senhor
Bachar al-Assad fique onde está, não tem nada que fazer aqui no Líbano?
W.J:
É a minha opinião pessoal. Nós tivémos divergências profundas com o
regime sírio, depois de Damasco ter apoiado o prolongamento do mandato
do presidente Lahoud. O preço desse prolongamento foi o sangue do
primeiro-ministro Rafik Hariri e de todos os outros mártires do
movimento da independência do Líbano. Por isso, volto a dizer, a minha
opinião não mudou.
E: Desde há algum tempo, algumas teses defendem que a Síria não
estaria implicada no assassinato de Rafik Hariri e que poderes
regionais ou serviços secretos da região estariam por detrás do
atentado…
W.J:
Porque é que todos aqueles que se opuseram à presença síria, ao
prolongamento do mandato do presidente Lahoud e pediram a independência
do Líbano com relações de igual para igual com Damasco foram mortos?
Quem é que até hoje, para além do regime sírio, não reconheceu ainda a
independência do Líbano?
E: Existem ainda receios no seio da classe política de que haja outros assassinatos políticos?
WJ:
Não sei. Tudo é possível.
E: O que se passa com o tribunal internacional encarregado do caso do assassinato do primeiro-ministro Rafik Hariri?
WJ :
Espero que esse tribunal seja constituído o mais rapidamente possível,
mas parece-me que as coisas estão um pouco atrasadas. Não sei se o
atraso é técnico ou político.
E: E se fôr político?
WJ : Se o atraso é político, quer dizer que as Nações Unidas, ou uma
facção no seio das Nações Unidas, está em conivência com o regime em
deterimento do sangue de Rafik Hariri e dos outros mártires da
independência do Líbano.
E: Falemos da visita prevista do presidente francês. O que espera de Nicolas Sarkozy?
WJ:
Esperamos que a política da França seja menos ambígua no que diz
respeito à questão palestiniana, do que foi no tempo do presidente
Chirac. Pensamos saber que no quadro do lançamento da União para o
Mediterrâneo, o presidente sírio foi convidado para assistir ao desfile
do 14 de Julho ao lado do presidente Sarkozy. Se assim fôr, penso que
este convite é um insulto ao povo francês.
E: O que pensa do papel da União Europeia no Líbano. Pensa que deve ser ausente ou, ao contrário, deve estar mais presente?
WJ:
Não há política europeia comum. Há alguns gigantes económicos a que
chamamos Europa, mas não há uma única voz em matéria de política
externa e isto não apenas em relação ao Líbano, mas a todo o espaço do
Mediterrâneo.
E: Pensa que a União para o Mediterrâneo pode trazer um novo espírito, capz de isolar as ditaduras do mundo árabe?
WJ:
Não. Não acredito. Penso que a União para o Mediterrêneo é,
infelizmente, uma forma de a França isolar a Turquia. E já que falamos
de espaço mediterrânico, a Turquia faz parte deste espaço e também
Israel que prossegue uma política de discriminação racial e repressão
sobre os palestinianos. Não consigo entender como é que a Europa pode
não ser solidária com a questão palestiniana, mantendo uma posição tão
pouco clara.
E:Walid Jumblat, muito obrigado
Vitor mango- Mensagens : 304
Data de inscrição : 04/06/2008
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