Telemóveis perturbam sono
O uso excessivo de telemóveis está a alterar os padrões de sono dos jovens, que dormem cada vez menos. Para os especialistas, dormir sete a nove horas por noite é fundamental para a saúde.
Maria Luiza Rolim
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| Sérgio Granadeiro | A apneia é um dos distúrbios do sono e exige tratamento médico |
Quem faz mais de 15 chamadas e/ou envia 15 SMS por dia tem mais dificuldades para dormir em comparação às pessoas que usam moderadamente os telemóveis. Além disso, apresentam mais susceptibilidade ao stress e à fadiga. Esta é a conclusão de um estudo divulgado esta semana pela Academia Americana da Medicina do Sono de Westchester, EUA.
De acordo com a pesquisa, estar interligado durante todo o tempo - hábito cada vez mais frequente em todo o mundo - é muito pouco saudável. "É necessário consciencializar os jovens sobre os malefícios do uso abusivo dos telemóveis", afirma Gaby Brade, autor do estudo.
Segundo este médico da Academia de Sahlgren, em Gothenburg, Suécia, "parece existir uma relação entre o uso intenso dos telemóveis e uma conduta que compromete a saúde". Foram observados 21 jovens com idades compreendidas entre os 14 e 20 anos. O grupo experimental, três homens e oito mulheres que usavam o telemóvel de forma excessiva, revelou um estilo de vida mais descuidado, maior consumo de tabaco, álcool e outras bebidas estimulantes, assim como dificuldades para dormir, além de sofrer de stress e fadiga.
Dormir é preciso
A vida moderna nos grandes centros urbanos é uma correria, e as pessoas tentam aproveitar cada minuto. Muitas vezes, a primeira coisa que sacrificam é o sono. "Entre pessoas saudáveis, há uma tentação de restringir, voluntariamente, o sono, para ficarem acordadas mais uma hora ou duas, ou para levantarem uma hora ou duas mais cedo. O problema é que, sem darem por isso, estão a reduzir a produtividade e a expor a saúde", adverte o médico Greg Belenky, director do Centro de Investigação do Sono e Performance, da Universidade Spokane de Washington.
Este investigador tenta alertar os americanos, incluindo os cerca de 40 milhões de pessoas que a cada ano se deparam com algum tipo de distúrbios do sono, para os riscos a que se expõem.
Os distúrbios do sono (insónia, apneia, narcolepsia, bruxismo, sonambulismo e síndroma das pernas inquietas) têm sido alvo da atenção de um número crescente de cientistas. Um dos mais graves é a apnéia, caracterizada pela interrupção/diminuição do fluxo do ar que provoca a queda do oxigénio no sangue e a despertar com frequência, podendo levar à morte.
De acordo com a Fundação Nacional do Sono, antes de Thomas Edison inventar a lâmpada em 1880, as pessoas dormiam pelo menos dez horas por noite. Actualmente, os americanos têm menos de 7 horas de sono durante a semana, e cerca de 7,5 horas aos fins-de-semana.
Os especialistas recomendam sete a oito horas de sono por noite, dependendo das necessidades de cada pessoa. "O número de pessoas que dormem as horas necessárias ideais é cada vez mais reduzido. E quando uma pessoa dorme seis horas ou menos, as coisas tornam-se muito complicadas ", afirma o médico Chris Drake, investigador senior do Henry Ford Hospital Sleep Disorders and Research Center, em Detroit.
Poucas horas de sono ou noites mal dormidas afectam, em especial, a performance no dia-a-dia. "Os efeitos são visíveis imediatamente. Dormir pouco pode levar as pessoas a tomar más decisões; deixa-as mais susceptíveis a perder as coisas; torna-as mais desatentas e desligadas da realidade", disse Chris Drake.
Doenças e obesidade
Os resultados são ainda mais graves a longo prazo. A carência de sono pode levar à obesidade, diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, depressão e abuso de medicamentos para dormir (uma solução para noites mal dormidas, mas prejudicial a longo prazo).
Segundo Chris Drake, que trabalha também com professor assistente de psiquiatria e neurociência comportamental na Wayne State University School of Medicine, com poucas horas de sono, as hormonas que controlam o apetite tornam-se "desorganizadas".
Ao mesmo tempo, as hormonas que estimulam o apetite, por sua vez, aumentam de actividade. Experiências em ratos de laboratórios levadas a cabo pela Universidade de Princeton, nos EUA, indicam que a falta de sono afecta a região do cérebro envolvida na formação de memórias. Dormir pouco pode levar o cérebro a parar de produzir novas células.
A inibição da produção de neurónios associada à privação prolongada de sono, por sua vez, pode explicar algumas deficiências de aprendizado. Pessoas com falta de sono têm dificuldades de concentração. Outro estudo, conduzido por pesquisadores americanos e singapurenses, revela que o cérebro, mesmo privado de sono, pode operar normalmente durante certo tempo. Mas, em seguida, responde lentamente aos estímulos que requerem atenção e interpretações visuais. Assim sendo, "os períodos de funcionamento aparentemente normal podem, por exemplo, dar falsa ideia de segurança".
Doença bipolar e sono
Adoptar um padrão regular de sono pode ser benéfico também para quem sofre de transtorno bipolar. Segundo um estudo apresentado no ano passado do colégio americano de neuroafarmacologia, a alteração do 'relógio biológico' que regula o horário da fome e do sono pode agravar os sintomas dessa desordem psíquica associada a mudanças bruscas de humor. Dormir pouco também afecta o crescimento.
Segundo especialistas, horas correctas de sono durante a noite são importantes para a liberação da hormona do crescimento. As crianças pequenas devem ir para a cama entre as 19h30 e as 20h30. As horas de sono variam em função da idade.
Um estudo divulgado no ano passado pela Fundação Nacional do Sono dos EUA, revela que a carga de actividades em casa e no trabalho e os hábitos da vida moderna estão a arruinar o sono de duas entre cada três mulheres americanas.
Mulheres de todas as idades, sobretudo as que trabalham e, em especial, as mães solteiras, são as mais afectadas. Poucas horas de sono durante a noite, cansaço e sonolência durante o dia provocam ansiedade, stress e depressão, e afectam a vida sexual.
Mas, como em tudo na vida, o excesso de horas de sono pode ser igualmente prejudicial. Pelo menos a julgar pelos resultados de um estudo realizado pelas University of Warwick e University College London, que analisou o padrão de sono e as taxas de mortalidade de 10.308 funcionários públicos britânicos. O risco de problema cardiovascular fatal duplicou tanto para aqueles que reduziram as horas de sono de sete para cinco horas, como para os passaram a dormir no mínimo menos oito horas diárias. |
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