Vaga de Liberdade
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Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos

3 participantes

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Mensagem  Admin Dom Jun 15, 2008 1:23 am

Magia negra
Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos

Fomos às consultas de Bambo e Karamba
Bruxos Garantem resolver todo o tipo de maleitas. Mas as queixas de burla crescem. As novas vítimas são da classe alta e já perderam milhares de euros
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A sala onde o professor Bambo recebe os pacientes está mergulhada na penumbra. Ardem duas velas e o cheiro do incenso entranha-se na roupa. Ao fim de cinco minutos de consulta, o vidente, de olhos fechados e lábios colados ao colar de contas, anuncia que preciso de lhe entregar mais €240 se quero ver os meus problemas resolvidos. Digo não ter tanto dinheiro à mão. Só os €40 desembolsados na consulta. “Então vá arranjá-los o mais depressa que puder. E venha cá logo a seguir. Espero por si”, responde, impaciente o astrólogo de túnica azul e «cofió» islâmico na cabeça. “À primeira vista, até pode parecer-lhe que é muito dinheiro, mas depois da minha cura de sete dias, vai ganhar muito mais e nem se irá lembrar do que gastou no início”, acrescenta num tom semelhante ao de um vendedor de «time-sharing».
Há dois minutos, explicara-lhe que me encontrava desempregado e com muitas dívidas ao banco e ao casino: duas mentiras para perceber se o vidente as conseguiria detectar. “Não me revela pelo menos quais são os números do próximo Euromilhões?”, pergunto, mal dissimulando um sorriso. “Depois de me pagar, saberá. Vai ficar rico. Mas só depois de me pagar”, repete o vidente, cada vez mais agressivo.
Só se acalma quando lhe garanto que voltarei ainda nessa tarde com o dinheiro (nova manobra de diversão). Bambo (que afinal não é o mesmo dos anúncios e das queixas de extorsão, mas um ‘irmão’ que trabalha no seu consultório do Marquês de Pombal e que diz ter o mesmo o nome) pede então para ver as minhas palmas das mãos. No instante seguinte tira um frasco da gaveta com um líquido viscoso de aspecto duvidoso. “Agora espalhe-o pelas mãos, cara e cabelo”, diz. Enquanto o faço, com relutância, ele volta à carga: “Mas vai ou não voltar mesmo hoje? Se não fizermos esta lavagem espiritual já, não vai haver resultados, porque você está bloqueado. Está tudo a correr-lhe mal na vida. Só o líquido que lhe vou preparar fará mudar a sorte”.
Ainda parecia ouvir a lengalenga dele, enquanto pagava na recepção pela consulta de vinte (intensos) minutos. Recibos, é que nem vê-los. “A contabilidade arranja uns quando vier às consultas seguintes”, desculpa-se a empregada, rodeada por fotos de velhos videntes «marabout» do Senegal (de onde descendem o professor Bambo e seus pupilos).
Não muito longe dali, num quarto andar da avenida de Roma, há calendários de parede com as mesmas imagens. Estamos no consultório de outro nome bem conhecido dos classificados dos jornais: o professor Karamba. A sala de espera está vazia, ao contrário do vai-e-vem de pacientes de Bambo. A consulta é mais barata (€35) mas o ambiente do gabinete tem ainda maior carga dramática: as paredes estão forradas de papéis até ao tecto com caracteres islâmicos.
Karamba, que enverga o mesmo tipo de indumentária islâmica do colega de profissão, só se expressa num dialecto africano e por isso precisamos de uma tradutora (a recepcionista). “Que problema o trás por cá?”. Repito a história fictícia e obtenho uma sentença contundente: “O seu caso é muito grave. Precisa de um banho espiritual.” Originalidade zero. A receita do astrólogo é a mesma do outro «medium» com a agravante de sair mais cara: para avançarmos à fase seguinte, teria de lhe trazer €800 e uma foto minha. Em troca, iria receber o mesmo tipo de miscelânea prometida pelo professor Bambo, que deveria passar por todo corpo, aos sete ventos.
Enquanto discursa, o vidente escreve furiosamente o que parece ser um mapa astral e vai debitando frases soltas, de olhos arregalados quase em transe. “Numa semana, terá tudo resolvido”, assegura. Ao contrário de Bambo, o professor Karamba não promete revelar-me a sorte grande, mas deixa uma porta entreaberta à magia negra: “Traga os números com que costuma jogar e logo lhe direi quais os que me parecem ser certos”, afirma depois de passar o seu dedo indicador pela palma da mão. Felizmente, não me impingiu líquidos estranhos. A consulta foi ainda mais rápida do que a do Marquês de Pombal, mas pelo menos não houve a mesma pressão para entregar a todo o custo o dinheiro ‘milagroso’.
O receio inicial de que Bambo ou Karamba iriam perceber, graças aos seus apregoados dons extra-sensoriais, que o paciente de boné na cabeça, roupa desportiva e barba por fazer era afinal um jornalista, não se concretizou. “No início da carreira, estes videntes talvez tivessem algumas capacidades de adivinhação. Mas deixaram-se levar pela ganância do dinheiro e excederam-se”, teoriza Moisés Espírito Santo, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa, que acompanha o fenómeno. E remata: “O que se passa com estes astrólogos é extorsão clara”.
Texto de Hugo Franco
Ilustração de Alain Gonçalves/who



NÚMEROS

850


número de pacientes que o professor Bambo diz atender por mês nos consultórios de Lisboa, Porto e outros pontos do país
50


número aproximado de queixas de burla e extorsão a videntes que estão a ser investigados pelas autoridades
40


euros. Preço médio de uma primeira consulta num vidente. Os banhos espirituais podem ser de 800 euros
10


anos. É o tempo que o professor Bambo leva de trabalho em Portugal



Há burlas de meio milhão
As mais recentes vítimas dos videntes africanos e brasileiros são oriundas da classe média/alta e não de pessoas de origens humildes como acontecia até há pouco tempo. É uma nova realidade, que em muito se relaciona com a crise económica. “Há médicos, professores e muita gente com formação superior”, alerta uma fonte policial que investiga as acusações de burla e extorsão ao professor Bambo e outros astrólogos populares no meio. O Expresso apurou que em Lisboa e no Porto, há mais de 50 queixas contra bruxos, astrólogos ou videntes e o número tem aumentado nas últimas semanas depois do caso do mediático vidente senegalês ter vindo a público. “Só um dos burlados do professor Bambo terá perdido meio milhão de euros. Ainda conseguimos recuperar o dinheiro a tempo. Trata-se de uma pessoa com grande capacidade financeira”, diz a mesma fonte. Há dois meses, a polícia conseguiu deter dois videntes brasileiros no aeroporto da Portela quando tentavam desembarcar rumo à terra natal. “Iam fugir com os 300 mil euros que extorquiram a um cliente”, acrescenta este responsável policial que garante que o número de queixas só não é maior “porque as pessoas ficam com vergonha de contar que foram burladas por estes charlatães. h.f.
L.M.F.





RELIGIÃO V. COMÉRCIO

Reino Unido ataca epidemia de «psychics»
Quando o Governo do Reino Unido anunciou que a directiva europeia também respeitava às actividades de videntes e afins, uma organização do ramo, a Spiritual Workers Association, alegou que não fazia sentido aplicar normas comerciais em matéria espiritual. O argumento perdeu força ao constatar-se a dimensão atingida pelo mercado dos «psychics», bem como a agressividade das tácticas que eles usam, ao telefone e por via postal. Conformada, a SWA acabou por recomendar aos seus associados passarem a referir que os resultados não são garantidos, ou incluírem uma descrição dos serviços propostos como “entretenimento”.
Anna Stenson, presidente da Humanist Association of Great Britain, uma organização de ateus que milita pelo secularismo na vida pública, disse ao Expresso que a novidade da lei agora em vigor é transferir o ónus da prova dos consumidores de “serviços espirituais” para os seus fornecedores. Na sua opinião, é assim mesmo que deve ser, até porque a “epidemia da fraude psíquica” está a atingir proporções endémicas. “Aproveitar-se de pessoas que estão perturbadas, que sofreram uma perda, é completamente desonesto”, diz com moderação inglesa.
L.M.F.





PROTECÇÃO DO CONSUMIDOR

Uma lei que vai dar trabalho
Para a Direcção-Geral do consumidor, a lei 57/2008 que agora entrou em vigor não vai ser de aplicação fácil. A lista de práticas comerciais desleais enumeradas é tão extensa que uma parte do trabalho, fatalmente, envolverá perceber exactamente ao que determinadas alíneas se referem. “Todas as situações vão ter de ser analisadas”, diz Mónica Andrade, subdirectora-geral da DGC, admitindo que a linguagem de alguns anúncios poderá estar no limite daquilo que é legal.
A publicidade dos videntes e afins não será o objecto prioritário da sua fiscalização, mas isso não significa que passe despercebida. Aliás, ainda recentemente o Observatório da Publicidade - um projecto conjunto da DGC e da Escola Superior de Comunicação - andou a fiscalizar esse tipo de publicidade. Foram detectadas quatro infracções, relativas a produtos alegadamente milagrosos. “É a prova de que estamos atentos”, diz Mónica Andrade. Se estiver em causa publicidade, a competência é da DGC. Se for a conduta concreta de um prestador de serviços, vendedor ou outro, em princípio cabe à ASAE agir. É mais frequente, porém, as queixas serem dirigidas à polícia.
L.M.F.


http://aeiou.semanal.expresso.pt/1caderno/pais.asp?edition=1859&articleid=ES293790
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Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos Empty Re: Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos

Mensagem  Admin Dom Jun 15, 2008 1:40 pm

teoriza Moisés Espírito Santo, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa, que acompanha o fenómeno. E remata: “O que se passa com estes astrólogos é extorsão clara”.
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Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos Empty Re: Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos

Mensagem  Anarca Dom Jun 15, 2008 2:24 pm

“No início da carreira, estes videntes talvez tivessem algumas capacidades de adivinhação. Mas deixaram-se levar pela ganância do dinheiro e excederam-se”, teoriza Moisés Espírito Santo, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa, que acompanha o fenómeno.


Não esquecer esta parte...
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Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos Empty Re: Videntes pedem dinheiro ao fim de 5 minutos

Mensagem  Vitor mango Dom Jun 15, 2008 3:50 pm

Anarca escreveu:“No início da carreira, estes videntes talvez tivessem algumas capacidades de adivinhação. Mas deixaram-se levar pela ganância do dinheiro e excederam-se”, teoriza Moisés Espírito Santo, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa, que acompanha o fenómeno.


Não esquecer esta parte...

O Moises Espirito Santo é da mesma terra Natal do mango
Um dia que o encontre vou ver se o convenço a debitar aqui na Vaga
Sobre religiões o mESTRE é barra

O Moises estudou na Sorbonne e os Mestres ficaram encantados com a sabedoria
Vitor mango
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