Igreja faz ‘mea culpa’ na fuga de fiéis
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Igreja faz ‘mea culpa’ na fuga de fiéis
Igreja faz ‘mea culpa’ na fuga de fiéis
Falhas na formação dos padres e no discurso perante os novos tempos estão na base da fuga de fiéis em Lisboa
Falta qualidade nas homilias, leituras e cânticos das missas. Quem o admite é o cardeal-patriarca de Lisboa. Numa altura em que a Igreja reconhece a diminuição de praticantes na capital, o alerta foi feito por D. José Policarpo, numa carta enviada aos católicos de Lisboa. Deficiências na formação dos sacerdotes e a dificuldade de adaptação da Igreja aos novos tempos são outras das causas apontadas para esta fuga de fiéis.
O cardeal-patriarca, na Carta Pastoral (dá instruções de carácter doutrinal) enviada às paróquias, no passado dia 18, apela à renovação da liturgia. A diocese da capital, segundo cálculos feitos pelo Expresso a partir de dados fornecidos pelo Patriarcado, perdeu cerca de cem mil praticantes nos últimos sete anos. O patriarca reconhece, na sua carta aos padres de Lisboa, que existem lacunas nas missas: uma “má proclamação da palavra de Deus”, “demasiados discursos durante a celebração, abundância da palavra humana” e “má qualidade e falta de mensagem religiosa dos cânticos”.
“A forma de organizar a paróquia pode explicar a grande afluência de pessoas”, diz Feytor Pinto, prior do Campo Grande, onde o fenómeno de fuga de fiéis não se sente. “A eucaristia é sempre uma festa”, diz o padre, que defende que as cerimónias têm de ser “diversificadas” em função dos fiéis a que se destinam, assim como a “homilia tem de estar ligada à vida real”.
Bernardo Félix, prior da Igreja de São Paulo, vive a situação oposta. Há 30 anos que vê “desaparecerem as pessoas”. Começou com uma população de 13 mil recenseados e, agora, não chegam a três mil. Os jovens saíram e não voltam, a Igreja conta pelos dedos de uma só mão os baptizados e casamentos que faz num ano. “Onde vou arranjar gente? Só se lhes pagar”, ironiza, garantindo que “este é um problema da cidade, não da Igreja”. “A cidade é um meio completamente hostil e desumanizado”, concorda Peter Stilwell, teólogo e padre numa capela localizada no Centro Comercial das Amoreiras e que também não foi atingida pela quebra de assistência. Para ele, a perda de fiéis pode estar relacionada com dificuldades de adaptação da própria Igreja. “É preciso fazer uma reflexão sobre a formação dada nos seminários porque, hoje, as pessoas são muito mais exigentes”, afirma.
Para o sacerdote e teólogo da Universidade de Coimbra Anselmo Borges, “com a invasão do materialismo, Deus tem cada vez menos lugar. Mesmo que haja - e há - procura da espiritualidade, já não é necessariamente através da mediação da Igreja”.
“É um erro pensar que a quebra da prática religiosa representa uma quebra da religiosidade”, diz Steffen Dix, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) e especialista em Sociologia da Religião. Peter Stilwell sublinha que “as peregrinações a Fátima e mesmo a Compostela têm vindo a crescer continuamente”. E há missas em Lisboa que viram o número de fiéis crescer nos últimos anos.
O sociólogo do ICS admite mesmo que a quebra de fiéis em Lisboa “não é um fenómeno nem novo, nem definitivo”. “Já Oliveira Martins, em 1871, falava nisso e durante a I República a quebra foi muito mais acentuada”. Fenómenos como “o carisma do padre” ou a “actividade social da paróquia contrariam, muitas vezes, esta quebra”, conclui Steffen Dix.
http://aeiou.semanal.expresso.pt/1caderno/pais.asp?edition=1859&articleid=ES294067
Falhas na formação dos padres e no discurso perante os novos tempos estão na base da fuga de fiéis em Lisboa
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Apesar da quebra de fiéis nas missas de Lisboa, o fenómeno não é uniforme e existem igrejas onde o número de assistentes tem vindo a aumentar FOTO JOSÉ VENTURA |
O cardeal-patriarca, na Carta Pastoral (dá instruções de carácter doutrinal) enviada às paróquias, no passado dia 18, apela à renovação da liturgia. A diocese da capital, segundo cálculos feitos pelo Expresso a partir de dados fornecidos pelo Patriarcado, perdeu cerca de cem mil praticantes nos últimos sete anos. O patriarca reconhece, na sua carta aos padres de Lisboa, que existem lacunas nas missas: uma “má proclamação da palavra de Deus”, “demasiados discursos durante a celebração, abundância da palavra humana” e “má qualidade e falta de mensagem religiosa dos cânticos”.
“A forma de organizar a paróquia pode explicar a grande afluência de pessoas”, diz Feytor Pinto, prior do Campo Grande, onde o fenómeno de fuga de fiéis não se sente. “A eucaristia é sempre uma festa”, diz o padre, que defende que as cerimónias têm de ser “diversificadas” em função dos fiéis a que se destinam, assim como a “homilia tem de estar ligada à vida real”.
Bernardo Félix, prior da Igreja de São Paulo, vive a situação oposta. Há 30 anos que vê “desaparecerem as pessoas”. Começou com uma população de 13 mil recenseados e, agora, não chegam a três mil. Os jovens saíram e não voltam, a Igreja conta pelos dedos de uma só mão os baptizados e casamentos que faz num ano. “Onde vou arranjar gente? Só se lhes pagar”, ironiza, garantindo que “este é um problema da cidade, não da Igreja”. “A cidade é um meio completamente hostil e desumanizado”, concorda Peter Stilwell, teólogo e padre numa capela localizada no Centro Comercial das Amoreiras e que também não foi atingida pela quebra de assistência. Para ele, a perda de fiéis pode estar relacionada com dificuldades de adaptação da própria Igreja. “É preciso fazer uma reflexão sobre a formação dada nos seminários porque, hoje, as pessoas são muito mais exigentes”, afirma.
Para o sacerdote e teólogo da Universidade de Coimbra Anselmo Borges, “com a invasão do materialismo, Deus tem cada vez menos lugar. Mesmo que haja - e há - procura da espiritualidade, já não é necessariamente através da mediação da Igreja”.
“É um erro pensar que a quebra da prática religiosa representa uma quebra da religiosidade”, diz Steffen Dix, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) e especialista em Sociologia da Religião. Peter Stilwell sublinha que “as peregrinações a Fátima e mesmo a Compostela têm vindo a crescer continuamente”. E há missas em Lisboa que viram o número de fiéis crescer nos últimos anos.
O sociólogo do ICS admite mesmo que a quebra de fiéis em Lisboa “não é um fenómeno nem novo, nem definitivo”. “Já Oliveira Martins, em 1871, falava nisso e durante a I República a quebra foi muito mais acentuada”. Fenómenos como “o carisma do padre” ou a “actividade social da paróquia contrariam, muitas vezes, esta quebra”, conclui Steffen Dix.
Monica Contreras e Rosa Pedroso Lima
FRASES “Ouço os jovens dizerem que a missa é uma seca e, desgraçadamente, tenho de reconhecer que, muitas vezes, é” ANSELMO BORGES Teólogo da Universidade de Coimbra e sacerdote “A quebra da prática religiosa é um fenómeno europeu. Aqui, a Igreja Católica continua com o monopólio e não se pode dizer que os portugueses sejam menos crentes” STEFFEN DIX Sociólogo da Religião |
MARCELO REBELO DE SOUSA “A esquerda faz falta” Marcelo Rebelo de Sousa defende que há falta de “vozes em defesa da doutrina social da Igreja”, porque os movimentos de leigos têm sido dominados pela direita. Em declarações ao Expresso, o professor defendeu que “os movimentos de leigos com mais força actualmente são de direita e apostam nas questões fracturantes, como o aborto, divórcio, eutanásia e casamento homossexual”. Em contrapartida, “ há que falar também contra as desigualdades sociais, a globalização meramente economicista e em defesa dos imigrantes”, matérias tradicionais dos movimentos de esquerda que “continuam a existir mas não têm o peso dos outros”. “É errado porque a Igreja não é de esquerda nem de direita”, diz Marcelo Rebelo de Sousa. |
JUVENTUDE OPERÁRIA CATÓLICA “Clero virado para dentro” “Os jovens sentem desconfiança num clero virado para dentro e sem dimensão missionária”, defende Luciano Nogueira, o padre assistente da Juventude Operária Católica (JOC) desde há nove anos. “Muitas vezes são prepotentes, fazem homilias que nada têm a ver com a vida”, frisa, acrescentando que “o estilo de vida de muito clero choca com a pobreza de tantos e distancia-se de Jesus”. Após uma era com grande visibilidade, a JOC quase desapareceu. Mas está de novo a ganhar espaço: “Já estamos em nove dioceses”, diz Luciano Nogueira. Os membros da JOC já não são “os jovens com a 4ª classe, mas licenciados oriundos de famílias desfavorecidas, com pais desempregados ou com trabalhos precários”, explica. “A juventude, porém, continua a acreditar em Cristo, como alguém libertador, afectuoso e próximo”. |
http://aeiou.semanal.expresso.pt/1caderno/pais.asp?edition=1859&articleid=ES294067
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